domingo, 23 de dezembro de 2012

Métis e Atena

Estudar a mitologia e o papel das deusas nos ajuda a entender os rumos que o Feminino tomou ao longo da história. Além disso, segundo Robert A. Jonhson, retornamos à dimensão mítica da vida para aprender sobre nossa dinâmica psicológica interior.

No livro "Mulher: Em busca da feminilidade perdida" o capítulo 18, escrito por Jean Shinoda Bolen, intitulado "atena, ártemis, afrodite e a iniciação ao feminino consciente" fala um pouco sobre a mitologia, nos ajudando a entender o que aconteceu à consciência feminina no passado e sugere uma metáfora para o que está acontecendo agora.
 
A autora começa o capítulo contando a história de Métis.
 
Métis, uma deusa pré-olimpiana da sabedoria, foi a primeira consorte do deus - céu, Zeus. Ele a logrou tornando-a pequena e a engoliu quando estava grávida de Atena. Somente depois que já estava adulta é que Atena emergiu da cabeça de seu pai, e na época sem saber que, de fato, possuía uma mãe.
 
Como Métis, o matriarcado e seus valores foram historicamente engolidos pelo patriarcado. As evidências nos mostram que a Europa foi habitada, durante 25.000 anos, por povos pacíficos, matrilineares, adoradores de deusas, agrícolas e artesãos, que foram derrotados e absorvidos por tribos guerreiras adoradoras do deus-céu.
 
O movimento das mulheres permitiu que nós nos conscientizássemos daquilo que outrora era invisível: percebemos que vivemos numa cultura patriarcal e começamos a entender o que isso poderia significar para nós em termos pessoais e coletivos. Pudemos entender que os atributos femininos foram depreciados: como Métis, as mulheres e a sabedoria feminina foram enganadas para que se tornassem pequenas e desaparecessem da vista, engolidas para que falassem através do patriarcado. O processo através do qual começamos a liberar a nós mesmas das limitações psicológicas e da opressão institucional das pressuposições patriarcais foi apropriadamente chamado de "despertar da consciência".

Consequentemente, os anos 70 foram considerados a década do movimento das mulheres nos Estados Unidos. As portas se abriram para as mulheres entrarem nos campos acadêmicos, empresariais e profissionais, onde poderiam usar seus intelectos, exercer poder e competir com os homens. Foi uma liberação do arquétipo Atena nas mulheres - uma mente competente e impessoal que poderia criar estratégias e usar o poder. Da mesma forma que a deusa Atena emergiu da cabeça de Zeus, as mulheres que tinham as habilidades de Atena se tornaram visíveis e foram reconhecidas e valorizadas pela cultura do Pai. Como a própria Atena, a maioria das mulheres eram filhas de pais que não se consideravam a si mesmas feministas. Com mentores masculinos e fartas oportunidades, geralmente não se sentiam oprimidas; mantiveram uma aliança com os princípios de Zeus e não tinham conexão consciente com Métis, como sabedoria feminina.

Embora as primeiras beneficiárias do movimento das mulheres se parecessem com Atena, o próprio movimento foi liderado por mulheres que eram arquetipicamente Ártemis, a deusa grega da caça e da Lua, a única deusa que veio em auxílio de sua mãe, que tinha mulheres como companheiras e preferia estar nas selvas. As mulheres em parto oravam para ela em busca de ajuda.

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