sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A dádiva da fertilidade


Nosso ciclo menstrual é um período de muitas alterações hormonais. Nessa época nós mulheres estamos mais voltadas para nosso interior. Muitos sentimentos e sensações se afloram; eles vem à superfície, tocam a consciência com força e muitas vezes estremessem a alma.
 
É como se colocássemos uma lente de aumento em tudo que sentimos. Aquela mágoa, tristeza, insatisfação, saudade, alegria, paixão.... que estavam ali em um tamanho médio, ficam grandes e exigem de nós uma maior capacidade de lidar com o que vemos dentro da alma e sentimos.
 
Nossa capacidade criativa aumenta e as sensações corporais são sentidas e vividas com muita intensidade.
 
No livro Mulheres que correm com os lobos, Clarissa Pinkola diz que ver alguma coisa a fundo exige força para suportar o que se vê.
 
É importante sermos capazes de olhar para tudo isso que experimentamos em cada ciclo menstrual e usar cada sensação e experiência como potencial de transformação.
 
Todo mês temos a chance de crescer em autoconhecimento e nos expressar de forma criativa. Ou podemos viver o inferno, com TPMs terríveis e amaldiçoando ser mulher. É uma escolha.
 
A forma que encaramos nosso ciclo menstrual tem muito a ver com a forma que encaramos nosso ser mulher.
 
No livro Mulher - Em busca da feminilidade perdida, Betty De Shong Meador fala da tesmoforia (um ritual feminino da fertilidade). Connie Zweig (a organizadora do livro) inicia o capítulo dizendo o seguinte:
 
"O primeiro dos mistérios femininos que confrontamos em nossos corpos é a menstruação. A maioria das mulheres que tenho visto não experimentou a menarca (primeira menstruação), e nenhum outro ciclo menstrual, como eventos mágicos. Em lugar disso, fomos ensinadas a vê-los como eventos fisiológicos, mecânicos mesmo, nos quais o corpo despeja nossa substância como uma alternativa à fertilização.
 
Enquanto nossas mães, tipicamente, não sabiam nada acerca da aproximação da menstruação (e frequentemente pensavam, com o primeiro sangue, que corriam o perigo de perder suas vidas), nós fomos preparadas com explicações científicas atualizadas e com ferramentas e medicamentos que nos permitem atuar como se nada tivesse acontecendo. O ideal, então, era ser capaz de ignorar o sangramento.
 
A analista junguiana Betty De Shong Meador, recua até a Tesmoforia, uma cerimônia de fertilidade pré-patriarcal que relacionava as sementes da colheita com as sementes nos corpos das mulheres. O ritual envolvia purificação, descenso (descida), sacrifício e um encontro com a Serpente, a deusa das profundezas da fertilidade".
 
Este é um dos capítulos mais belos do livro. Betty de Shong diz que no passado os rituais femininos centravam-se no mistério do sangue. As mulheres celebravam a conexão entre o ciclo de fertilidade em seus corpos e o ciclo de fertilidade da terra. Elas honravam seus ciclos menstruais como presente de uma deidade e bravamente protegiam a sacralidade de sua fertilidade.
 
Penso que precisamos recuperar isto e nos relacionar com nosso ser mulher, em sua integralidade, de forma sagrada e amorosa! 

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